terça-feira, 12 de julho de 2011

DINHEIRO É PROBLEMA?

Mais uma contribuição da Lolita...
Antigamente dizíamos os homens querendo dizer homens+mulheres, ainda
lemos sobre “os egípcios” como se nunca tivesse havido egípcias.
Igualmente falamos em “dinheiro” para nos referir a várias coisas
muito distintas e nisto reside uma grande parte da dificuldade de
superar o que temos que superar: nós não identificamos bem o que
realmente precisa mudar, quando dizemos que o mundo precisa mudar ou
que um outro mundo é possível, aliás, urgente.

Parte do problemas que teremos de enfrentar se quisermos, finalmente,
evoluir de um planeta inconsciente e socialmente injusto para um
coletivo harmonioso, mais livre e mais responsável, portanto mais
consciente, é desmascarar nossos inimigos íntimos, esses inimigos a
quem damos colo e alimentamos cotidianamente, sem nos darmos conta,
talvez abrigados num sótão, ou debaixo dos nossos lençóis, no baú de
lembranças da infância... onde quer que eles estejam, precisamos
começar a identificá-los e colocá-los nos seus devidos lugares.

Então, sobre a questao do dinheiro, uma boa pergunta para começar
seria “QUAL dinheiro, cara-pálida?” De que dinheiro estamos falando?
...afinal as diferentes épocas e lugares usam sistemas (de pagamento;
de unidade de avaliação e conta; e de reserva de valor material) muito
distintos, com características distintas, características que geram
procedimentos distintos, facilitam certas interações, e dificultam
outras, promovendo determinados valores, sentimentos e condutas, e
desincentivando ou penalizando outros. (O livro O Futuro do Dinheiro,
de Bernard Lietaer explora formidavelmente este tema)

As moedas estatais-nacionais que costumamos ter em mente quando
falamos indiscriminadamente de “dinheiro” são uma particularidade
recente na história.

Dinheiro. em si, não tem nada de ruim, é um invento bem prático. O que
é indiscutivelmente ruim é o dinheiro fiduciário, dogmático, velado,
jurante, acumulador, escravizador, que está sendo criado e mantido em
circulação hoje a bordo de um acordo entre nossos governos e certas
casas bancárias que estão no comando regendo todo o sistema
financeiro.

Fiduciário: não se come esse dinheiro, não se veste esse dinheiro,
isto é: o dinheiro de hoje não serve para mais nada, não tem outra
utilidade ou valor senão intermediar trocas (antes da moeda
fiduciária, foram usadas várias diferentes mercadorias de ampla
aceitação como meio de troca universal – a moeda não começou sendo um
símbolo puro como é hoje). O problema não está em ser fiduciário, isto
é, em ser exclusivamente algo que se aceita porque é um tipo de
mico-preto que confiamos que vamos poder passar adiante, vai ser
aceito novamente quando quisermos adquirir algo. O problema é:
Em quem confiamos?

Dogmático: nós mortais aceitamos o dólar, por exemplo, (apesar de tudo
– e esse tudo sobre o dólar seria um vasto livro à parte) mesmo os EUA
tendo abandonado unilateralmente a promessa feita em Bretton Woods, de
converter um dólar por uma quantidade fixa de ouro, quando criaram o
sistema atual (com o FMI para tomar conta). Aceitamos estritamente
porque é a moeda emitida pela autoridade suprema – os Estados Unidos
da América, o império materialmente mais poderoso principalmente em
termos bélicos e que tem a mais acachapante influência nos níveis do
que hoje chamamos conhecimento. Da mesma forma os brasileiros aceitam
o real porque ele é emitido pelos sumos poderosos... (quem mesmo??) e
ninguém questiona... E não se fala mais nisso!

Velado: não mais que um punhado de pessoas já parou para pensar sobre
o que realmente é o dinheiro, e quem tenta, enfrenta muitos
obstáculos, afinal, as escolas não ensinam, as faculdades criam e
difundem postulações que servem perfeitamente ao propósito de nos
impedir de chegar no âmago das verdades sobre os dinheiros usando um
vocabulário, uma sintaxe e raciocínios impenetráveis para iniciados e
não iniciados. E os meios de comunicação de massa se encarregam de
jogar toneladas de holofotes sobre as fachadas que encobrem quem cria,
quem lucra e como lucra com o atual sistema monetário mundial, quais
os efeitos peculiares que esse dinheiro-de-hoje tem sobre as
feições da nossa vida econômica, e social como um todo.

Jurante: o dinheiro que conhecemos e cremos ser o único possível, é
emitido através da emissão de títulos de dívida - com juros - muito
embora durante 99% da história conhecida os juros tenham sido banidos
pelas leis dos humanos e dos deuses (as escrituras das três grandes
religiões do planeta - judaismo, cristianismo e islamismo -
invariavelmente abominam a usura). Os problemas dos juros são muitos
vou citar só 5. Começa que não temos como escapar, eles estão
embutidos em todos os preços (devido aos financiamentos dos produtores
e os impostos com os quais pagamos as despesas de juros dos governos)
e portanto todos estamos sempre pagando juros, com o agravante de que
quanto mais pobres mais juros ocultos ou contraídos pagamos
percentualmente sobre nossa renda. E eles (2) são impossíveis de
pagar, pois o colocado em circulação é somente o crédito, o valor dos
juros não é emitido.... (3) restando como opções para os endividados
usuários das moedas estatais nacionais jurantes disputarem entre si,
competir pelo dinheiro artificialmente tornado escasso, acumular,
entesourar. Matematicamente é fácil entender que as dividas de (4)
juros sobre juros crescem cada vez mais rápido, exponencialmente, são
uma impossibillidade, afinal o fruto do trabalho das empresas e
pessoas não pode crescer indefinidamente e cada vez mais rápido.. E
(5) por último, não menos importante é o fato de que os juros drenam a
renda de quem não tem para quem  não precisa. É o mecanismo que impõe
competição, acumulação e concentração. É o DNA da desigualdade. Quem
quiser enfrentar estes problemas precisa começar a entender as moedas
estatais-nacionais jurantes e seus sacerdotes

Escravizador: porque para pagar aos fabricadores de dinheiro as dividas
de juros, sempre haverá agentes econômicos não fabricadores de dinheiro
que não verão outra opção senão buscar mais uma dose – com juros.

Mas dinheiro pode ser e já está sendo um instrumento transparente,
auto-gerido, injurante, libertário, criador de solidariedade e
fartura. Já há hoje em circulação moedas complementares com vários
propósitos e características específicas. Vale a pena se informar..

Lolita Sala

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